O Ba-Vi das lições técnicas, táticas e sociais
A primeira metade do clássico Ba-Vi refletiu o que as duas equipes tem feito no Campeonato Brasileiro, mesmo que o segundo tempo não me dê razão. Enquanto o Bahia tentou jogar com a bola nos pés, como gosta Paulo Cézar Carpegiani, o Vitória apostou no jogo reativo, como o grupo se sente confortável e Vagner Mancini teve que se adaptar.
Parte dos números do jogo ajuda a explicar as posturas. Na primeira etapa, o Bahia teve pouco mais de 67% de posse de bola, mas apenas duas finalizações – mesmo número do Vitória, que ficou um terço do tempo com a pelota em seus domínios.
Carpegiani optou por começar o jogo com Allione, meia armador com características diferentes de Régis, um meia-atacante com poder de infiltração na área. O argentino se encarregou de dar apoio ofensivo a Edigar Júnio, usado novamente como atacante de referência. O Bahia, por muitas vezes, espelhou o esquema tático do Vitória e jogou no 4-4-2, formando duas linhas de quatro e dando liberdade para Mendoza flutuar no último terço do campo. Criou volume, mas pouco incomodou o goleiro Caíque.
O Vitória não soube jogar com a bola nos pés. Com Ramon no meio-campo, ao lado de Uillian Correia, somente Yago tentava o jogo de posse. Neilton e David, verticais, buscava o confronto um contra um o tempo inteiro. Uma identidade do rubro-negro de Vagner Mancini, sobretudo como visitante.
O Vitória até melhorou no segundo tempo. Sem espaço para contra-ataques, o time buscou a compactação e tentou a troca de passes. Porém, ainda tivesse 58% de posse de bola, sofreu o primeiro gol oferecendo espaços na defesa e contando com a falha individual de Wallace, que rebateu a bola nos pés do inquieto Stiven Mendoza.
Com o Bahia se fechando após o 1 a 0, principalmente com a entrada de Matheus Sales em lugar de Zé Rafael, Carpegiani abriu mão de atacar para fazer algo que diz odiar: se defender. Ele diz, inclusive, que não sabe jogar na defensiva. Provou isso ao sofrer o gol de empate, mesmo em bola parada. Fez a Fonte Nova vir abaixo graças a uma substituição que havia feito minutos antes, quando colocou Régis em campo e deu um pouco de verticalidade ao time. Foi dele o passe para a finalização de Edigar Júnio, bem defendida por Caíque. No escanteio, desvio de Edson e gol de Edigar.
A posse de bola e o controle do jogo voltaram ao Bahia. É uma evolução. O Vitória segue com o jogo reativo e tem dificuldades para jogar com a posse da bola. Precisa criar alternativas. Na gangorra do Brasileirão, o tricolor voltou a viver tranquilo justamente por retomar suas origens.
Insultos e suas consequências
Antes do apito final do árbitro, Renê Júnior e Santiago Tréllez se desentenderam. O volante do Bahia acusou o atacante do Vitória de chamá-lo de “macaco” – uma injúria racial que, infeliz e absurdamente, tem virado rotina no futebol brasileiro. Renê saiu de campo chorando e Tréllez foi embora do estádio sem dar declarações, se pronunciando apenas horas depois, através de vídeo divulgado pela assessoria rubro-negra.
O que se viu na Arena Fonte Nova foi um despreparo de muitos personagens ao tratar do tema. Por viverem num mundo fechado, onde o futebol é prioridade quase que 24 horas por dia, a maioria dos profissionais do esporte não sabem lidar com situações que interferem diretamente na sociedade. Ao chamar Renê Júnior de “macaco”, a intenção de Tréllez era desestabilizar o atleta, mas esqueceu de que atingiu o ser humano. Não dá para aceitar tudo o que acontece dentro de campo como algo que “faz parte do jogo”. Não, mesmo.
As declarações do técnico Vagner Mancini e do presidente em exercício, Agenor Godilho, deixam claro o despreparo. Apesar de o treinador ponderar que a atitude de seu atacante é errada, tentou justificar alegando falta de fair play de Renê, que não havia devolvido uma bola. O dirigente classificou o caso como um “mal entendido”. Lógico que ambos defenderam o seu comandado, mas faltou bom senso ao tratar de um tema tão delicado.
A comunidade futebolística precisa ultrapassar as fronteiras do campo e se arriscar a respirar o ar rarefeito das questões sociais no Brasil.
Fonte: Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
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