O ‘lado B’ da elitização do futebol brasileiro
Domingo passado, o Sport foi derrotado pelo líder São Paulo, na Ilha do Retiro, apresentando um futebol abaixo da crítica – o resultado, inclusive, provocou o pedido de demissão do técnico Claudinei Oliveira. A atuação do time pernambucano evidenciou uma sensível queda de rendimento técnico, algo que qualquer clube da Série A está sujeito a sofrer.
No mesmo dia, em Curitiba, o Paraná Clube empatou com o Botafogo por 1 a 1 e se manteve na lanterna do Campeonato Brasileiro. São quatro jogos sem vencer, além de uma fase que resultou na demissão do treinador Rogério Micale.
Sport e Paraná são reféns de um campeonato que, nos últimos anos, aumentou a sua segregação. O clube pernambucano recebe R$ 35 milhões por ano em cotas de TV, enquanto os paranaenses faturam R$ 23 milhões. Somados os números, a dupla não alcança os valores do Botafogo que, por exemplo, recebe R$ 60 milhões. O alcance do investimento de ambos inviabiliza a montagem de elencos mais competitivos, capazes de brigar por posições mais nobres na tabela da Série A.
O grande problema do futebol brasileiro ainda reside em dois pontos: na capacidade de gestão de seus dirigentes e na divisão de cotas de TV. E as duas coisas estão diretamente ligadas.
O Paraná Clube, assim como o Ceará e o América Mineiro, estão na Série A por puro mérito técnico. Passaram por uma segunda divisão dura, apesar do nível do futebol ser abaixo do que a elite está acostumada a ver. No caso dos paranistas, o feito aconteceu após uma década sofrendo no limbo do futebol brasileiro. Olhando pelo ponto de vista do torcedor, estar entre os 20 melhores do país é motivo de orgulho, também. Obviamente que a campanha não é motivo de festa, mas a maioria desses times fica presa no gargalo criado pelos próprios dirigentes, incapazes de discutir sabiamente a divisão do bolo televisivo no Brasil.
Oito equipes da Série A recebem menos de R$ 50 milhões de cotas de TV. Atlético-PR, Bahia, Sport, Vitória, Chapecoense, América-MG, Ceará e Paraná Clube, juntos, somam R$ 241 milhões – Corinthians e Flamengo, por exemplo, somam R$ 340 mi. Não que as duas grandes marcas do país precisem receber menos, mas o abismo faz com que o Campeonato Brasileiro deixe a impressão de ser tecnicamente pior do que realmente é. Tudo isso, claro, por conta da incapacidade dos cartolas em decidirem algo em conjunto.
O principal ponto é reduzir o abismo. Mudar fórmula do campeonato, diminuir número de participantes ou alterar quantidade de rebaixados não irá melhorar sensivelmente o Brasileirão. Times tecnicamente ruins existirão em qualquer formato, e em qualquer competição mundo afora. A Premier League, exemplo em divisão de cotas de TV, na temporada passada terminou com o West Brom vencendo apenas seis partidas – menos jogos que o Atlético-GO, lanterna da Série A em 2017, que venceu nove confrontos. Só a título de curiosidade, o West Brom começou a temporada 2017-2018 com 118 milhões de libras em caixa, só com cotas televisivas.
Para chegar à elite do futebol brasileiro, o Paraná Clube também contou com uma estrutura invejável. Além de mandar os seus jogos na Vila Capanema, o clube conta com a Vila Olímpica, estádio com capacidade para 8 mil torcedores; o CT Ninho da Gralha, que possui sete campos de treinamentos; e a Sede Social Kennedy, que atende aos sócios paranistas. Um clube que revelou Thiago Neves, Ricardinho, Éverton e Giuliano, dentre outros.
O mesmo se aplica ao Sport, que negociou a revelação Everton Felipe para o São Paulo, e conta com seu estádio próprio, a Ilha do Retiro, para fazer a diferença na maioria das temporadas, além do CT elogiado pelas seleções que passaram pelo Recife na Copa de 2014. Sem contar os centros de treinamentos de Bahia, Vitória e Ceará, que estão entre os mais modernos do Brasil. Definitivamente, não é a estrutura desses clubes que têm tornado o Campeonato Brasileiro ruim.
O futebol no Brasil precisa se rediscutido em outras esferas. O calendário sufocante, com estaduais pouco atrativos e que ocupam uma parte significativa da temporada no país, deixa o Campeonato Brasileiro mais frágil. A capacidade dos dirigentes, sobretudo aqueles que não gozam de grandes orçamentos, de buscar soluções para diminuir o abismo financeiro que existe na Série A, é motivo para questionamentos. O Flamengo receber R$ 170 milhões e o Paraná faturar apenas R$ 23 mi é o grande ponto. Soluções cômodas não farão o nível técnico do futebol nacional saltar aos olhos do grande público.
Fonte: Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
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